sexta-feira, 24 de março de 2006

DesFigura

Eu e uma amiga (cujo nome não vou mencionar por motivos políticos) fomos ontem à estréia da peça "Desfigura", uma espécie de biografia (se é que posso chamar assim) do artista plástico Francis Bacon no Sesc Copacabana.

Vários atores "globais", fotógrafos cobrindo a menina da novela das 7 no hall de entrada (mesmo que os jornalistas nem cheguem a comentar a peça em si, ter muitos artistas famosos na estréia dá status), e um coquetel maravilhoso.

Quanto à peça... Ao ler a programação, confesso que pensei "vou detestar". Graças ao trecho escrito pela diretora Regina Miranda, em que ela dizia ter tentado ser fiel ao horror que Francis Bacon tinha à narrativa linear.
Pensei comigo mesma sobre o quanto não me agradam essas experimentações contemporâneas, em que todo mundo fica pelado, fala coisas sem sentido e grita no final.

Quanto a isso, admito ter me equivocado. Essa não-linearidade foi excelente, lembra mais ou menos a velocidade e as conexões do pensamento. Como um assunto puxa o outro, uma lembrança traz outras. Como um quadro remete às memórias etc.

A iluminação é maravilhosa, deixo aqui meus cumprimentos ao iluminador Luiz Paulo Nenen. A peça não seria nem metade do que é sem o desenho de luz: em boa parte do tempo você se sente realmente dentro de uma pintura (efeito conseguido também graças ao cenário).

O dançarino Paulo Marques, que interpreta uma espécie de "modelo" para o artista, é um show a parte. Deixei, na maior parte do tempo, de prestar atenção no ator principal para observar o dançarino. A maneira como ele se expressa é singular, é um jogo de expressões (corporais e principalmente faciais) que consegue passar realmente toda a emoção do texto e das obras do pintor.

Não gostei muito da atuação de Édi Botelho, e minha amiga concordou comigo. Não que ele seja ruim, mas a sensação que eu tive é a de que ele não conseguiu captar muito bem a essência do personagem. Mas achei-o parecido fisicamente com o Sean Penn, então, ponto pra ele!

No geral, a peça é bem chata. Meio intelectualóide, meio "a roupa do rei". Uma menina que estava sentada ao nosso lado chegou a dormir. Mas eu, que nunca tinha ido a uma estréia, adorei. Principalmente o coquetel no final, foi a melhor parte!

Nenhum comentário: