segunda-feira, 13 de setembro de 2004

Burra! Burra! BURRA!

Acabei de constatar que preciso mesmo começar a fazer uso da minha carteira de habilitação e aprender de vez a vir dirigindo para Niterói. Depois de 5 meses estudando aqui, vim de ônibus pela primeira vez. E o resultado foi trágico.

Dormi pouco na noite anterior, fiquei ansiosa querendo aproveitar meus últimos minutos de Internet em casa e bater meus últimos papos (inclusive com o Dudu, que arranjou um novo e revolucionário sistema de comentários para mim), e o resultado foi que acordei sentindo ainda muito sono, em torno das 5 da manhã. Meu ônibus para Niterói partiria pontualmente às 06h06min.

Dormi durante boa parte da viagem, fazendo da minha blusa de moleton um travesseiro perfeito. 9h estávamos chegando à rodoviária.

É conveniente lembrar que eu sofro de um mal chamado SAM (Síndrome do Abobalhamento Matinal), que faz com que eu fique um tanto quanto atordoada ao acordar. Começo a falar coisas relacionadas aos sonhos que tive, como se esses tivessem mesmo acontecido. Tenho dificuldades para me localizar, e até algumas para falar.

Prosseguindo, o ônibus chegou à rodoviária por volta das 9 da manhã, o que apontava um possível engarrafamento. Acordei com o ônibus parado e um barulho de pessoas em movimento. Algumas delas faziam fila para sair, outras estavam tranqüilas. Sentadas. Inertes. Pensei "ufa, até que enfim gente civilizada, sem pressa!". Eu realmente detesto quando, nos ônibus, as pessoas fazem filas e começam a empurrar umas às outras para ver quem sai primeiro.
Enquanto isso, mais de metade do ônibus continuava em paz, como se sequer tivessem saído da minha cidade.
Pensei "bah, vou correr que assim chego mais cedo na faculdade e ainda dá tempo de usar a Internet".
Doce ilusão...

Desci do ônibus, indo em direção à porta de saída. Nada parecia estar fora do lugar.
Chegando na saída, notei que o portão era... diferente, muito diferente.

Encontrei dois seguranças, com os quais tive um diálogo mais ou menos assim:
_ Bom dia! Vocês sabem onde é que eu posso pegar o 49 para o Centro?
_ HEIN?
_ O ônibus 49, onde eu posso pegar? Pensei que o ponto ficasse aqui em frente à rodoviária, mas não estou encontrando, e...
_ 49? Ô Fulano, passa algum 49 para o Centro aqui?
_ 49 para o Centro?
_ É... 49 para o... *Lanchonete Novo Rio* peraí, a gente não está em Niterói?
_ 49 para o Centro? Olha, não passa esse ônibus aqui não...
_ Eu não sou daqui e estou perdida. A gente não está em Niterói?
*seguranças com caras de tacho*
_ MOÇO, a gente está no Rio?
_ É, Rio de Janeiro...
_ AI MEU DEUS!

Corri para ver se ainda alcançava meu ônibus. Ele, de fato, ainda estava lá. Partindo.
Eu tinha 2 opções:
a) sair correndo com uma mala imensa a tiracolo, mochila laranja nas costas, cabelos escovados e brincos de argola com quase 10cm de diâmetro cada atrás do ônibus, gritando "ME ESPEREM POR FAVOR, DESCI NO LUGAR ERRADO E PRECISO IR PARA A FACULDADE!", lembrando que moro numa cidade com 300 000 habitantes, e estava num ônibus em que 60% das pessoas, além de morarem na minha cidade, estudam na minha faculdade e me conhecem pelo menos de vista.
b) pensar numa solução alternativa e tentar sair de lá de algum outro jeito.

Como em todo o filme de ação, escolhi o Plano B.

Voltei para falar com o mesmo segurança.
_ Moço, descobri! Eu desci na Rodoviária errada!
...
Como eu faço para pegar um ônibus para Niterói?
_ Niterói?
_ É, eu achei que estava em Niterói, mas não estou. Como faço para sair daqui e pegar um ônibus para Niterói?
_ Olha, esse ônibus que você tava procurando... Não é para Copacabana que você quer ir?
_ Moço, eu estou perdida, preciso ir para Niterói. Não quero ir para Copacabana, estou na cidade errada. Como eu faço para pegar o ônibus para Niterói?
_ Ah, Niterói... Bem... Você sobe esta escada, anda pelo corredor até o final, encontra uma escada rolante, blablablablablá, passarela amarela, blablablá, direita, ...


Perdi-me em meus próprios devaneios enquanto ouvia as palavras que o enroladíssimo segurança proferia. Mas consegui lembrar-me de uma conversa que eu tivera com minha amiga Jormana, sobre atravessar uma passarela para pegar um ônibus que iria para Niterói. Agradeci e parti "em busca da vitória".

Ao fim da primeira escada, pedi informação para um outro segurança, que explicou tudo com mais clareza. E ao sair pelo portão principal da rodoviária, um taxista que era a simpatia em pessoa (e que tentava convencer-me de que "de taxi é muito mais seguro") me indicou com precisão onde eu deveria pegar o ônibus. Que "sorte", terminei de descer as escadas da tal passarela e lá estava o ônibus a minha espera.

Liguei para minha mãe, para contar-lhe o acontecido.
_ Ai, filha, então chegando lá pega um taxi para ir para casa, ok? Senão você vai chegar atrasada e toda suada!
_ É... tem razão, mãe, depois de tudo isso, acho que eu mereço...


Terminal rodoviário de Niterói. Onde ficam os malditos táxis?
Fui até o final do terminal para descobrir que o ponto de ônibus do maldito 49 fica do lado de fora. Lá fui eu para uma nova caminhada...
Entrei de mala e cuia num ônibus lotado, dei uma cotovelada no rosto do senhor que estava atrás de mim na fila para pagar o trocador, machuquei uma senhora gorda que empacava o caminho, e quase perdi minha bandana preferida (que, misteriosamente, voltou para minha mochila. Eu realmente não me lembro de tê-la colocado lá...).

Cheguei em casa nervosíssima. Uma baiana de 34 anos que mora comigo veio discutir porque eu havia acordado mademoiselle quase às 10 da manhã com o barulho da porta. Segundo ela, eu "deveria usar a maçaneta ao invés de bater, cabeção". Bah.

Ela que vá se perder na rodoviária da cidade errada.

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