quinta-feira, 7 de outubro de 2004

Complexo de Olívia Palito

(texto escrito anteontem, e não publicado antes por falta de computador)



Tenho de apresentar um seminário amanhã, sobre um texto que ainda não li. Mas é impressionante como só me encontro inspirada para escrever sobre banalidades cotidianas quando deveria estar lendo coisas sérias.

O texto de hoje nada tem a ver com obesidade, nem com subnutrição. O "Complexo de Olívia Palito" envolve fatores psicológicos muito mais complexos que a auto-estima relacionada à estética física.

"Socorro, Poppeye!". E eis que, com a trilha sonora Poppeye, the sailor man versão instrumental de fundo, surge o grande herói comendo seu espinafre enlatado para salvar a mocinha de qualquer perigo. Esta, completamente agradecida, pula em seu colo, dá-lhe um beijo desses de deixar marca de batom, e termina a cena com o tradicional bordão "Meu herói!".

Toda a garota gosta de ser defendida. Gosta de sentir-se "especial" (não confundir com retardada). Lembro-me perfeitamente de um certo show do Capital Inicial ao qual eu fui há alguns anos. Eu estava ficando com um rapaz, e, ao afastar-me para uma rápida visita ao banheiro, um outro tentou me agarrar. Bem, na verdade eu não fui exatamente defendida, mas fui, sim, o estopim para uma estúpida e machista briga de defesa de território. Fiquei bastante assustada, de fato, mas devo admitir que, naquele momento, senti-me a mais especial dentre todas as criaturinhas do planeta.
Nossa, ele se arriscando por minha causa! Poderia apanhar, se machucar... Certamente está apaixonadíssimo por mim!

Após cerca de dez dias eu descobriria que aquilo não passara mesmo de uma disputa pelo acasalamento (não concretizado, devo esclarecer), como acontece com os alces e demais animais selvagens. Afinal de contas, se estivesse apaixonado por mim, não ficaria com outra menina em uma festa minha, certo?
¬¬

Também já aconteceu de eu pensar que estava apaixonada por um rapaz que me ajudara a estudar numa matéria em que eu tinha dificuldades no ensino médio, após ele mesmo já ter conseguido passar de ano.

O ponto que estou colocando é: garotas ficam extremamente felizes e agradecidas quando alguém "se arrisca" por elas. Hoje, uma menina que mora comigo estava contando sobre um tiroteio que aconteceu durante sua primeira visita ao "Via Show", uma casa de espetáculos na baixada fluminense. Ela ficou apavorada, em estado de choque, sem conseguir sair do lugar. Eis que surge ele, o herói: quase 30 anos de idade, não muito bonito. Mas voltou de onde estava para abraçá-la e levá-la para algum lugar seguro.
_ E você ficou com ele, Wanessa?
Gabriela me responde:
_ Lógico que ficou, ele salvou a vida dela! Depois dessa o cara não precisa nem ser bonito!



Crescemos influenciadas por essa lenda do príncipe encantado salvador. É ele quem vai quebrar feitiços de bruxas malvadas, livrá-la dos perigos mais atrozes, e fazê-la feliz para sempre.

Quando surge alguém enfrentando qualquer aranha ou barata por sua causa, você acaba sendo induzida a olhar esse alguém com outros olhos. Quem sabe até pensar que está apaixonada? Se um cara "enfrenta perigos" para tirá-la do buraco, certamente deve ser o amor da sua vida.

Os contos de fada certamente afetam nosso intelecto e capacidade de percepção, não tem jeito... Não há outra explicação! Você não deve nada ao seu herói, mas... Ai, ele é tão fofo!


Garotos, fica aí a dica: se está difícil conseguir destaque no coração de alguma menina, banque o herói dela. Ela provavelmente vai gostar...

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