sábado, 2 de outubro de 2004

O milagre da maternidade

Rio de Janeiro - Volta Redonda. Parece que todos resolveram voltar para cá hoje. Final de semana com mais uma dessas democráticas eleições em que os cidadãos são obrigados a votar. E voltar.

Tentando sair do Rio de Janeiro desde as 16h, só consegui passagem para as 17. E cheguei em minha cidade por volta das 19h45min, sendo que normalmente levo no máximo 2h. Trânsito congestionado...
Ônibus lotado.

Ao meu lado, sentados na poltrona de número 11 estavam uma mulher e seus dois filhos. Aparentemente ela não quis comprar mais uma passagem para que todos sentassem-se juntos. E lá vieram duas crianças alternando entre as posições de pé e no colo da mãe, sempre resmungando.

_ Mãe, mas a gente vai em pé?
_ O moço falou que deve sobrar vaga lá atrás, aí vocês sentam.
_ Mãe, tem fila pra entrar no ônibus...
_ O ônibus ainda não começou a andar, menino!.

Ai, meu Deus, já começo a me preocupar.
A mãe não agüenta mais as crianças resmungando, e o ônibus mal saíra do lugar.
_ Ai, estou com dor de cabeça!
_ E eu com dor de barriga! Ai!
_ E EU COM DOR DE PERNA! Mãe, eu não quero ir de pé!

Ok, pausa para reflexão: tem duas possibilidades para a minha vida. Ou eu vou ser muito rica, ou eu NUNCA vou ser mãe. Maternidade e falta de grana simplesmente não combinam. Para começo de conversa, era de dar pena o estado das duas crianças espremidas no espaço de um assento de ônibus convencional (nem executivo era, meu Deus) com uma mãe gorda e grosseirona.

_ Mãe, eu quero fazer cocô!
_ Quer nada, você só quer ir conhecer o banheiro!
_ Quero sim, mãe, vou fazer na calça daqui a pouco!

Seja como for, não culpo a menina por isso. Mesmo que ela só quisesse, de fato, passear no banheiro. Ficar 3 horas de pé num mesmo lugar para uma menina de 6 anos deve ser o equivalente a ficar 2 meses de pé para mim, que tenho 20. Proporcionalmente, 3 horas são uma grande fração da vida dela.
Mas admito ter ficado preocupada com a possibilidade da garota estar realmente com dor de barriga, sendo que a bunda dela estava encostada... bem, nas minhas pernas.

Como se não bastasse,
_ Mãe, é sério, a roupa já tá começando a grudar no meu corpo, eu tô suando!
_ É, nem tá fazendo frio aqui dentro, mãe, eu quero tirar a roupa!
_ Como assim tirar a roupa, menina?
_ Não tá fazendo frio aqui dentro! Deixa eu tirar a blusa rosa pelo menos!
Meu Deus, agora ela não só quer defecar nas próprias roupas como também quer tirá-las. Sem roupa, com dor de barriga, ameaçando resolver seus problemas ali mesmo e encostada em mim. Seria muito azar.
Ainda bem que a mãe teve um lapso de bom senso.


Em frente ao Bob´s, na Serra das Araras:
_ Mãe, a gente já tá em Volta Redonda?
_ Não, ainda não...
_ Falta muito?
_ Já tá quase...
_ Mas essas duas horas tão demorando, mãe!
_ Pelo visto a gente só vai chegar lá amanhã, Mariana... A mamãe só tá enrolando a gente!
_ Mãe, a gente só vai chegar amanhã?

Por sorte ou por milagre, consegui dormir por um bom tempo durante a viagem, usando minha bolsa nova como travesseiro. Chato mesmo foi quando as crianças começaram a cantar (entenda BERRAR) o grande clássico das brincadeiras infantis:
"Fui ao cemitério, tério tério tério
Era meia noite, noite, noite, noite
Vi uma caveira, veira veira veira
Era vagabunda, bunda bunda bunda..."
_ Não é caveira, seu burro! É esqueleto!
"Vi um esqueleto, leto leto leto
Era vagabundo, bundo bundo bundo!"
_ Não! É caveira! blablablablá...
_ Fala baixo, vocês vão atrapalhar o moço sentado aí na frente!
"É, dane-se a menina que está sentada aí do lado tentando dormir, expremida com meus dois filhos e eu num espaço onde só caberia metade de mim."


Mas aquelas crianças...
Coitadas, não tinham culpa, a mãe era mesmo uma selvagem.
Mas... Crianças são seres chatos que resmungam, que sentem fome e dor de barriga.
Que reclamam o tempo todo e nunca estão satisfeitas, e que simplesmente NÃO ENTENDEM quando a mãe não pode fazer nada a respeito. Odeio crianças com mais de 3 anos de idade a partir de hoje.
Estou cada vez mais duvidando do meu instinto maternal...

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